Quem é você e o que faz?
Eu tenho 26 anos, nasci em Porto Alegre e morei por quase cinco anos em São Paulo. Hoje eu moro em Estocolmo, na Suécia, onde eu trabalho como front-end na Britny. Sou fundadora do MariaLab, escrevo sobre o mercado de tecnologia para o Estadão, às vezes escrevo em inglês no Medium, e outras vezes em português sobre como é ser imigrante no Lagom.
Por formação, eu sou Técnica em Redes de Computadores, mas trabalhei pouco na área de infraestrutura. Cursei longos 3 anos da faculdade de Licenciatura em Física, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e quando me mudei para São Paulo acabei trancando o curso.
Descobri o universo das redes de computadores com o meu pai, que era técnico em telecomunicações da extinta CRT, e trazia para casa vários telefones e roteadores quebrados - aqueles roteadores que você configurava com chavinha. Com os livros velhos dele eu aprendi o que eram redes de comunicação, como funcionavam as antenas de rádio e como impulsos elétricos se tornavam dados. Na época, uma das minhas tias trabalhava em uma rádio (de música erudita e MPB), onde eu passava muitas tardes acompanhando as gravações dos programas e aprendendo como as transmissões AM aconteciam. Era uma mistura de interesse por música, entretenimento e tecnologia; eu adorava.
Eu usava os computadores dos museus de Porto Alegre e dos espaços de inclusão digital da prefeitura (usando Windows 95 ou 98), e só fui ter meu primeiro PC em 2003 - com um Windows XP, que em pouco mais de dois anos seria substituído por um Linux Debian. Eu queria ser jornalista e achava que ter um blog era a melhor coisa que eu poderia fazer para começar a buscar esse sonho. Então, aprendi a “fazer site” porque não tinha grana para pagar um “webmaster” para fazer meus blogs (e dos meus amigos). Eu cheguei a passar no vestibular para Jornalismo, mas optei por fazer um curso técnico na área de informática porque parecia mais fácil conseguir emprego na época, enquanto preparava o terreno para estudar jornalismo depois. Eu só não contava que a paixão pela TI iria apenas crescer dali para frente.
Foi na prefeitura de Porto Alegre que eu fiz o meu primeiro estágio do curso técnico, onde eu ensinava robótica e HTML para crianças e adolescentes - e foi umas das minhas melhores experiências de vida. Depois disso trabalhei em uma empresa de instalação de redes de computadores, na época em que as redes wi-fi estavam começando a ficar populares, e perdi as contas de quantos cabos RJ-45 eu crimpei na época. A maioria dos nossos clientes eram empresas de engenharia civil, e eu lembro como se fosse hoje do choque na cara dos engenheiros quando eu entrava nas salas, munida de martelo, roteador e escada, e instalava os roteadores no alto das paredes. Nessa época fui pela primeira vez ao FISL, Fórum Internacional do Software Livre, sem nem saber o que diabos era software livre. Foi amor à primeira vista, claro. Meu trabalho de conclusão do técnico em redes acabou sendo sobre iptables. Depois disso, fui trabalhar com administração de redes Linux, como estagiária, em uma empresa de desenvolvimento de software de gestão de projetos, a Trace Sistemas. Por algum motivo obscuro, eles trocaram a minha posição com a de uma outra nova estagiária na época, que iria trabalhar na área de teste e help desk, e nós fomos para os setores errados. Eu saquei bem rápido a confusão, mas demorei uma semana para alertar o gerente. E aí já era tarde demais. Eu tinha descoberto um pedacinho do mundo do desenvolvimento e pedi para ficar onde eu estava. Foi na Trace que eu descobri outra paixão também: o gerenciamento de projetos. Uma das minhas atividades por lá era setar o workflow do sistema nos projetos de alguns clientes, então acabei lendo muita coisa sobre ITIL antes de começar a desenvolver de fato. Depois de lá eu trabalhei desenvolvendo objetos de aprendizagem para cursos de graduação à distância na UFRGS (onde eu estava estudando graduação em Física, depois do técnico), na minha primeira experiência direta com gerenciamento de equipe, aos 19 anos de idade. Dois anos depois surgiu a oportunidade de atuar como Gerente de Projetos em São Paulo, em uma agência de publicidade, a extinta Sinc. Em São Paulo eu trabalhava como gerente de projetos de dia, programadora freelancer de noite e instrutora de curso de programação no final de semana. Consertei muito PHP de projetos obsoletos e aprendi muito sobre administrar meu próprio tempo. Depois trabalhei como Community Manager na LiveAd, onde eu produzia conteúdo referente à tecnologia, podia testar coisas e criar projetos como o Techmission Lenovo. Foi uma época muito feliz.
Em São Paulo eu também conheci o Garoa Hacker Clube, onde conheci pessoas e projetos incríveis. E foi ali que eu tive a ideia, junto com outras amigas, de fundar o MariaLab, primeiro hackerspace feminista do Brasil.
Os últimos anos em SP foram uma mistura de criar a minha pequena empresa de desenvolvimento, onde o primeiro projeto foi o Chega de Fiu Fiu, participar de hackathons e montar o MariaLab. Resumidamente, claro.
É, eu sou uma pessoa bem doida. Eu sei.
Qual hardware você usa?
Meu notebook atual está bem velho, e eu estou há 6 meses analisando qual o próximo comprar. Demoro muito para decidir meus gagdets. Ele é um Lenovo U310, já fora de linha, com modestos 4GB de RAM e um processador Intel Core i5. Uso um mouse da Logitech sem fio M280, e também estou experimentando uma pen touch da Bamboo. Eu gosto de trabalhar com duas telas, uso um monitor genérico da Samsung no trabalho, e um Dell 2212HM em casa, emprestado do Paulo, meu vizinho que também é desenvolvedor. Bem provável que eu vá comprar um monitor da mesma linha em breve.

Minha última aquisição foi um smartphone da Samsung, o Galaxy S6 Edge, que eu demorei cerca de um ano para decidir comprar - sim, eu realmente demoro para comprar essas coisas. Eu também tenho um telefone de backup que eu gosto muito, o Galaxy Beam (também da Samsung), que tem um pequeno projetor embutido e no qual eu consigo assistir animações - como a Hora da Aventura - em uma ótima qualidade. Também já quebrou galho para eu fazer apresentações de trabalho, ou mostrar algum video do Youtube para a galera no bar. Esse celular foi um achado. Pena que estragou a entrada do carregador, mas já achei assistência técnica aqui e em breve ele estará de volta à ativa.
Eu sou viciada por fazer playlists - acho que não tem uma semana na qual eu não faça uma nova -, então fones de ouvido são algo importante para mim. Porém, com a mudança para a Suécia no ano passado, eu acabei optando por adquirir um mais simples para usar aqui no primeiro ano e estou com um Philips SHL3000. A idéia é investir em um melhor nos próximos meses, agora que já me estabilizei.
Eu costumo fazer bastante coisa fora de casa aqui em Estocolmo, sou super marmiteira e rata de biblioteca. Ou seja, a mochila tem que ser resistente, bonita e funcional. Optei por investir em uma Sandqvist, que cumpre minhas exigências e é uma marca local.
Qual software você usa?
Bem, meu sistema operacional é sempre algum GNU Linux, desde 2006. Minha distribuição favorita é o Fedora, mas eu também gosto muito de Debian. Estou sempre testando novas distribuições. O Ubuntu geralmente é a distribuição que opto para o computador do trabalho. Agora estou usando Elementary OS. Meu navegador de uso normal sempre foi o Mozilla Firefox e para rodar os projetos, recentemente passei a usar a versão a Developer Edition. Uso o Chromium para teste e para rodar as novidades que a galera desenvolve para o Chrome. O client do Spotify para Linux está sempre aberto enquanto eu trabalho, então estou bem feliz com as melhorias que a galera fez nele.
Para desenvolver, sou adepta do Sublime Text. Meu versionador é o Git e utilizo o Google Drive para escrever meus artigos, fazer planilhas de gastos compartilhados com amigos, etc. Porém, minha ferramenta de pesquisa favorita é o DuckDuckGo, que tem projetos fantásticos. Meu cliente de email é o Thunderbird, onde eu costumo trabalhar somente com as minhas contas de serviços mais alternativos, como o Riseup. Mas a maior parte do tempo estou logada no Gmail pelo navegador.
Sou uma filha orfã do Google Reader e uso o Feedly como alternativa, mas não é a mesma coisa. Também uso o Pocket e o Evernote para organizar links. Uso o Dropbox para backup de documentos. E para as finanças, o Tink.
Eu trabalho com tecnologia, mas a minha alma é analógica. Então, meu gerenciador de tarefas preferido é o meu Leuchtturm1917, que é um caderno "elegante", com pontilhado e páginas numeradas, onde eu uso meu principal método de organização: o Bullet Journal. Eu sempre tive problemas para me organizar, então venho testando metodologias para me ajudar nisso há anos. Em conjunto com o BuJo eu uso o Google Calendar para eventos com hora marcada, pois se o alarme não soa, eu esqueço com quem eu tenho que encontrar. Sou muito control freak com o meu tempo e nem tenho mais vergonha de dizer isso para as pessoas. Indico o Bullet Journal para todo mundo - principalmente programadores. No trabalho o povo gosta do Trello e do Asana, mas eu prefiro o RunRunIT, porque é um pouco mais robusto. Também curto o Redmine para trabalhar em grupo.
O que te motiva a fazer o que faz?
Quando eu era criança e sonhava em ser jornalista e a única razão por trás do sonho era que eu acreditava que essa profissão me possibilitaria conhecer outras profissões e realidades por toda a minha vida. E que eu poderia ajudar o mundo levando a informação às pessoas. No fim, trabalhar com TI se provou um caminho que me leva ao mesmo resultado. Dentro da área eu já tive a oportunidade de trabalhar para organizações de Direitos Humanos, como o CFEMEA; fazer projetos incríveis para marcas como Lenovo e Nike; entender como funcionam as compras públicas do governo, enquanto participei de um hackathon da W3C; aprender como os dentistas analisam as nossas arcadas dentárias, quando eu trabalhei com desenvolvimento de objetos de aprendizagem no NAPEAD; colaborar com projetos como o Mapa Chega de Fiu Fiu; etc. Não importa em qual empresa eu esteja ou o lugar do mundo onde eu more, sempre que eu estiver trabalhando com algo que eu acredito ou me interesso, eu me sinto plenamente realizada como profissional e como ser humano. E isso é o grande presente que a tecnologia me dá.
Um hobby?
Minha maior paixão na vida é a literatura. Então, além dos grupos de desenvolvimento, eu geralmente participo de grupos de leitura atenta e de escrita criativa. Eu tenho um pequeno livro publicado na Amazon, chamado Na Cama com Nietzsche, e dois livros em andamento no Wattpad - um de ficção científica, com a proposta de contar para as pessoas como a internet funciona, e o outro de horror fantástico, que já tem capítulo traduzido para o inglês. Também tenho um fanzine de ficção científica no Brasil, o Zine Regador, que está com a segunda edição em produção.
Além disso, mantenho um blog onde conto sobre como é morar aqui na Suécia, o Lagom Rocks, para quem estiver curioso com o processo todo.